quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Desmate ainda é a principal causa da emissão de gases de efeito estufa


Com 51,9% de contribuição, o desmatamento da Amazônia continua sendo a principal causa das emissões de gases de efeito estufa no país. Ou seja, além de causar prejuízos de toda ordem às riquezas naturais existentes na grande floresta, a sua devastação ainda é a principal razão da colaboração que o Brasil dá em termos de emissões de gases que causam o efeito estufa e o conseqüente aumento da temperatura do planeta.

Os dados constam de uma estimativa feita por cientistas da Universidade de São Paulo (USP), ao calcularam que as emissões de gases do efeito estufa no Brasil aumentaram 24,6% entre 1990 e 2005. Segundo publicou o jornal Folha de São Paulo, o trabalho dos cientistas da USP, liderado por Carlos Cerri, sai às vésperas de o Ministério do Meio Ambiente (MMA) divulgar suas próprias estimativas. Segundo a Folha, os dois estudos preenchem um vácuo de informação deixado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que produz os dados oficiais, e deve divulgar o próximo inventário só no ano que vem.

O trabalho da USP também mostra que o perfil brasileiro de emissões de gases de efeito estuga está mudando. Isto porque os gases-estufa do desmatamento cresceram 8,1% entre 1994 e 2005, taxa menor que a de outros tipos de fonte. Emissões vindas de energia, agropecuária, indústria e lixo tiveram, juntas, aumento médio de 41%. Mesmo com essa diferença, porém, o desmate continua sendo o principal emissor, representando 51,9% do total.

Descontando a perda de floresta, o estudo da USP permite comparar o Brasil a outros países. O crescimento de 41% foi menor que o de muitos países ricos que deveriam estar cortando emissões em vez de aumentar, conforme prevê o Protocolo de Kyoto. Gigantes pobres como China e Índia também tiveram aumentos maiores (89% e 62%, respectivamente). As emissões de não-desmate do Brasil, porém, subiram mais que a média mundial de 28,1% - puxadas por uma matriz energética mais suja e pelos transportes.

Segundo a Folha, os cálculos de Cerri e seus colegas saem em um artigo na edição desta semana da revista "Scientia Agricola". O trabalho, que levou cerca de um ano, é basicamente a compilação de dados de outros levantamentos já publicados, incluindo o inventário oficial de 1994. Cada fonte de dados teve de receber tratamento estatístico adequado para ser unida às outras.

sábado, 24 de outubro de 2009

Cerrado pode sumir em 2060


Especialistas discutem o futuro do bioma e advertem que, mantido o atual ritmo de destruição, ele estará extinto em 50 anos

O alto índice de desmatamento do cerrado, segundo maior bioma do Brasil, preocupa cada dia mais os ambientalistas. De 2002 a 2008, 1% do cerrado desapareceu por ano — o que representa um total de 127.560km² de área devastada. Alguns estudiosos chegam a arriscar que, se for mantido o atual ritmo acelerado de destruição, o bioma tende a desaparecer dentro de 50 anos. Desde o início da construção de Brasília, na década de 1950, cerca de 68% do cerrado desapareceram do mapa. A esperança dos especialistas está nas 53 unidades de conservação espalhadas pelo território nacional. O problema é que elas representam apenas 7% do total de 2.039.386 km² do bioma. A saída é, então, desenvolver ações criativas para impedir um futuro pior.

Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA), o DF é a unidade da Federação que menos desmatou o cerrado nos últimos seis anos. E é a única que no país que tem 93% do território protegido contra desmatamento. Fotos tiradas de satélites e o trabalho de ambientalistas mostram, no entanto, uma realidade diferente. Com a devastação em grande escala, cerca de 12 mil espécies de plantas, 320 mil de animais e as principais bacias hidrográficas do Brasil correm perigo. Os números são preocupantes, mas levantamentos como este são necessários para atualizar o mapa da devastação do bioma no país e, a partir daí, definir as metas para recuperar o tempo perdido. A preservação do cerrado foi o tema de debate, ontem pela manhã, no auditório da Reitoria da Universidade de Brasília (UnB). Três estudiosos se reuniram para apresentar os números e discutir o futuro do bioma.

Perdas

O chefe do Departamento de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente e professor do Departamento de Ecologia da UnB, Bráulio Ferreira de Souza Dias, iniciou há oito anos uma pesquisa para estudar o mapa de devastação do Cerrado. A primeira análise, realizada em 2002 com ajuda de imagens capturadas por dois satélites, mostrou que 41,9% do ecossistema estava destruído. Naquela época, blocos de 40 hectares de terra passaram pela pesquisa. Em 2008, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) voltou à região, que abrange 11 estados e o Distrito Federal, para detalhar a pesquisa. O resultado: 127.560 km² a menos de cerrado. “Se continuarmos neste ritmo, vamos ficar apenas com as unidades de conservação do bioma, que alcança 7% de todo o cerrado. Destes, apenas 2,5% têm garantias de conservação integral. É insuficiente para garantir a biodiversidade do cerrado”, explicou Bráulio.

A doutora em biologia animal da UnB Keila Macfadem ressaltou a preocupação em relação aos animais do cerrado. Segundo ela, 10 espécies de mamíferos do bioma correm risco de desaparecer em 50 anos se não foram desenvolvidas políticas ambientais para impedir a devastação. Com a proliferação das áreas urbanas ou ainda de campos de plantação e criação de gado, as unidades de conservação ficaram afastadas umas das outras. Outro fato recorrente é o fechamento dos corredores ecológicos, que permitem a circulação dos bichos entre as áreas protegidas. Dessa forma, os animais têm dificuldades para procriar. O tatu-canastra, por exemplo, foi encontrado apenas no Parque da Água Mineral. E as antas só vivem no Parque Nacional ou na Estação Ecológica de Águas Emendadas.

Como consequência, os animais são obrigados a correr o risco em estradas, comer lixo em áreas próximas às cidades e ainda se proteger de animais urbanos, como cachorros. Para desenvolver a pesquisa, Keila Macfadem analisou 35 espécies de mamíferos na região. Para compreender a rotina e aprender sobre a vida dos bichos, ela instalou de 70 câmeras fotográficas em pontos estratégicos de três áreas de conservação ambiental do Centro-Oeste — Estação Ecológica de Águas Emendadas, Parque Nacional da Água Mineral e Área de Proteção Ambiental Gama/Cabeça-de-Veado. O trabalho foi realizado por quatro meses, sendo que dois de chuva e dois de seca.

Conflitos

Os palestrantes apresentaram mapas da devastação a partir da década de 1950. Em 1954, o cerrado tomava conta de quase todo o centro do Brasil. Mas, a partir da construção de Brasília e a ocupação urbana, a região de mata diminuía aos poucos. O professor Bráulio citou ainda conflitos sobre o uso da terra, as mudanças drásticas do clima e o constante desmatamento que, somados, aumentaram a temperatura média do planeta e alterou as condições do meio ambiente. “A situação é perigosa. E o meio ambiente não vai sobreviver”, alertou Bráulio. O presidente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Gustavo Souto Maior, acrescentou à lista de colaboradores da devastação a proliferação de condomínios irregulares e a ocupação desordenada do solo. “As unidades de conservação estão asfixiadas pelo lixão da Estrutural e pelo Setor de Oficinas, no fim da Asa Norte, por exemplo. As unidades foram separadas em ilhas”, contou.

Souto Maior também ressaltou a falta de recursos dos governos federal e estadual para investir na preservação do meio ambiente. À frente do instituto há dois anos e meio, ele contou sobre a dificuldade dos órgãos ambientais em conter o ritmo da devastação. Ele citou, por exemplo, que o Ibram recebe 0,023% de todo o orçamento do Governo do Distrito Federal por ano para cuidar do meio ambiente. Para o Ministério do Meio Ambiente é destinado 0,11% do orçamento federal. “A tendência é que nem as unidades de preservação sejam respeitadas. Acho que tem, sim, solução se começarmos a lutar pelo espaço agora”, disse. Para ele, a população também deve se engajar com coragem e criatividade para reverter a atual situação. “Tem que haver o equilíbrio entre o meio ambiente e o desenvolvimento econômico”, sugeriu Gustavo.

Acordo climático em risco: Lula, é hora de agir!

O acordo climático que deverá ser fechado este ano está em risco. Declarações recentes de importantes líderes mundiais, dentre eles da União Européia e Estados Unidos, sugerem que em Copenhague se discuta o futuro da humanidade de forma meramente voluntária. O WWF-Brasil, através de carta enviada nesta tarde, urge que o Presidente Lula e seus Ministros conclamem os demais líderes mundiais para um esforço global pelo único resultado aceitável em Copenhague: um acordo ambicioso, justo e com força de lei. O fracasso em Copenhague representa um alto risco de instabilidade que implicará em custos sociais, ambientais e econômicos para todos os países.

“Consideramos que o apoio do Presidente Lula como líder global é fundamental para que o acordo de clima não se restrinja a uma carta de boas intenções e seja realmente um compromisso com força de lei internacional”, afirma Denise Hamú, secretária-geral do WWF-Brasil.

“O crescente pessimismo entre líderes das nações mais ricas, principalmente nos últimos dias, não pode tomar conta das negociações. O que o mundo necessita agora é de vontade política para a tomada das decisões necessárias”, completa.

O Brasil tem se mostrado colaborativo nesse processo, rejeitando a possibilidade de não haver um acordo forte em Copenhague. “Precisamos desse tipo de movimentação política e de ações fortes de países em desenvolvimento como China, Índia e Brasil para pressionar cada vez mais os países desenvolvidos a trabalharem por um acordo com força de lei, com reduções drásticas de suas emissões e financiamento do desenvolvimento de baixo carbono”, contextualiza Carlos Rittl, coordenador do programa Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil.

Resgate das declarações otimistas

Na última Cúpula de Clima em setembro, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, resumiu comentários de mais de 100 chefes de Estado como “um desejo vivo por todos os líderes de contribuir para o êxito das negociações em Copenhague”. Ainda de acordo com o secretário-geral, “Eles [os chefes de Estado] também manifestaram a disponibilidade para comprometer suas nações para alcançar um acordo eficaz que seja colocado em prática por todos.”

“Pelo menos dois terços das nações mundiais, empresas e novos mercados estão ‘prontos e esperando’ pelas certezas que trará um acordo com força de lei a ser assinado em Copenhague”, afirma Kim Carstensen, líder da Iniciativa Global de Clima da Rede WWF.

“Passamos quase dois anos para criar todas as bases para o novo acordo e obtermos um resultado inovador em Copenhague. O que precisamos agora é de vontade política e determinação, não de sinais confusos como os que estão sendo enviados por alguns líderes”, explica Carstensen.

Nos próximos meses haverá uma série de uma série de reuniões de chefes de Estado e serão ótimas oportunidades para repetirem o compromisso que fizeram na ONU.

Os líderes da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) estão reunidos hoje e neste fim de semana. Chefes de Estado europeus se reúnem na próxima semana para acordar uma posição sobre financiamento de ações sobre mudanças climáticas. Um encontro da Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (Apec) está marcado para novembro. Além dessas, outras reuniões bilaterais também estão previstas até o fim de novembro.

"Esperamos que os líderes coloquem as negociações de volta nos trilhos da responsabilidade", afirma Carstensen.