domingo, 4 de setembro de 2011

Greve deixa 24,5 mil índios sem médico na Amazônia

Agentes de saúde do Amazonas paralisam atendimento por atraso de salário

Pelo menos 24,5 mil índios da região amazônica estão sem atendimento médico, desde que agentes de saúde entraram em greve na semana passada, por atraso no pagamento de salário via convênio firmado com a Fundação Nacional da Saúde (Funasa). As informações foram divulgadas neste sábado pelo jornal O Estado de S. Paulo.


De acordo com a reportagem, a paralisação fechou 19 locais de atendimento na área do município de São Gabriel da Cachoeira, no extremo noroeste do Amazonas. Conhecidos como polo-base, esses centros cobrem um conjunto de aldeias, prestam assistência às comunidades e executam programas do governo, como campanhas de vacinação.

Com a greve, as campanhas foram suspensas e o atendimento dos casos mais graves é feito em um hospital na sede do município, já sobrecarregado, segundo profissionais de saúde ouvidos pelo Estado. Uma criança de 2 meses com pneumonia só conseguiu ser atendida graças à ajuda do Exército. A viagem de barco dentro do município pode levar até cinco dias.

Ao todo, 340 profissionais de saúde, entre enfermeiros, médicos, técnicos de enfermagem e dentistas, estão em greve. O grupo alega que há atraso de dois meses no pagamento de salário (para o governo, é um), falta de remédios e de apoio logístico para os deslocamentos às aldeias.

"A população indígena está largada", diz uma enfermeira que pediu para não ser identificada. "Aqui sempre passamos por sérias dificuldades: quando tem combustível pro barco, não tem medicamento. Sempre falta uma coisa."

De acordo com um outro enfermeiro, houve casos de agentes de saúde que tinham à disposição apenas três frascos do analgésico paracetamol para atender a cerca de 3 mil pessoas. "A gente tem de fazer uma mágica pra render", afirma.

O convênio em questão, de R$ 7,9 milhões, foi firmado pela Funasa com a ONG Associação dos Trabalhadores de Enfermagem de São Gabriel da Cachoeira. A duração prevista inicialmente era de maio de 2010 a maio de 2011, o que acabou sendo prorrogado até outubro deste ano. A ONG diz que o governo lhe deve R$ 4,1 milhões.

"Estamos aguardando a resolução desse impasse. O movimento de greve é um direito dos profissionais, que têm de reivindicar e mobilizar o governo para dar importância aos serviços prestados", afirma a presidente da ONG, Rosilda Trindade.

Outro lado. A ONG alega que a criação, em 2010, da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), braço do Ministério da Saúde que assumiu funções atribuídas anteriormente à Funasa, pode ter atrapalhado o processo burocrático de liberação da verba.

Ao Estado, a assessoria do Ministério da Saúde informou que o valor referente ao recurso aditivo (R$ 4,1 milhões) foi empenhado ontem pelo governo e a demora no pagamento se deveu a "ajustes jurídicos" entre a associação e a Funasa. Sobre insumos, a pasta diz que não há falta de medicamentos, mas admite que houve redução no estoque de apenas um medicamento - paracetamol -, o que deve ser corrigido o mais rápido possível.

Insensibilidade. Para o presidente da Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro, Abraão Franco, falta sensibilidade para cuidar da questão. "O governo federal criou uma secretaria fazendo ligação direta do Ministério da Saúde com a população indígena para facilitar o repasse dos recursos, mas não tem sensibilidade de repassá-los de forma adequada", criticou.

Projeto vai distribuir Tablets a estudantes do Amazonas

Estado deverá ser contemplado com medida, que visa universalizar acesso de alunos de escolas públicas a essa tecnologia

O tablet é um computador em forma de prancheta eletrônica, sem teclado e com tela sensível ao toque

O anúncio feito pelo ministro Fernando Haddad, da Educação, do projeto de distribuir tablets nas escolas públicas a partir do próximo ano, deve contemplar o Amazonas. Para o diretor do Departamento de Infraestrutura da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), Rossieli Soares da Silva, a medida será de extrema importância pelo compromisso do MEC, de universalizar o acesso dos alunos a essa tecnologia, mas ele adverte que o uso deste equipamento não deve ser visto como substituto do livro, mas sim como fonte complementar de informações.

 O tablet é um computador em forma de prancheta eletrônica, sem teclado e com tela sensível ao toque. Tem tela entre 7 e 10 polegadas e vem com conexão Wi-Fi. Alguns também usam conexão 3G. O ministério pretende, com a aquisição desses equipamentos, fortalecer a indústria, os autores, as editoras, para que não venham a sofrer um problema de sustentabilidade, com a questão da pirataria.

 Haddad afirmou não poder dizer ainda qual o volume de tablets a ser comprado, mas estimou ser de “centenas de milhares”. Ele destacou que a iniciativa está sendo executada em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). “O MEC, neste ano, já publica o edital de tablets, com produção local, totalmente desonerado de impostos, com aval do Ministério da Fazenda. Em 2012, já haverá uma escala razoável na distribuição de tablets”, assegurou o ministro. O diretor da Seduc lembrou que, por ser um projeto piloto, não haverá distribuição a todos os alunos e bibliotecas, mas há perspectiva de ampliação ao longo do tempo. Ele observa ter conhecimento dos avanços no desenvolvimento de software para tabletse que isso terá impacto importante na complementação em leitura, acesso à biblioteca e livro didático dos estudantes da rede.

 Embora o MEC tenha anunciado a ideia como política pública a ser implementada no ano que vem, a Seduc fez contato com o órgão federal, mas tudo está previsto para acontecer a partir do ano que vem, explicou Rossieli, para descartar a ideia de que o tablet poderá ser usado no futuro como substituto do livro. Pelo contrário, assegurou ele, dizendo que o equipamentos será um importante complemento educacional em sala de aula.

Áreas desmatadas da Amazônia viram pasto

Virou pasto a maioria das áreas desmatadas na floresta amazônica. Imagens de satélites analisadas pelo governo mostraram que dos 719 mil quilômetros quadrados de árvores abatidas até 2008, pouco mais de 62% são ocupados atualmente por pastagens e outros 20% passam por processo de recuperação natural da vegetação.


A agricultura, sobretudo destinada à produção de grãos, ocupa menos de 5% da área total desmatada, que representava, há três anos, o equivalente a 17,5% da Amazônia.

Os dados constam de estudo feito em parceria pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e foram apresentados ontem no Palácio do Planalto.

Inédito, o estudo confirma a hipótese de que a pecuária é o grande motor do avanço das motosserras na Amazônia. Os resultados surpreendem sobretudo pela extensão de terras ocupadas pela pecuária, o que indica a baixa produtividade, principalmente nos 110 mil quilômetros quadrados em que as cabeças de gado ocupam áreas de pasto sujo ou regeneração com pasto.

De acordo com dados oficiais mais recentes, a Amazônia Legal (área um pouco maior do que o bioma Amazônia considerado no estudo) reúne 71 milhões de cabeças de gado.

Recuperada

Também foi surpreendente a quantidade de floresta em recuperação detectada pelos satélites. Essa parcela, de 150,8 mil quilômetros quadrados, cerca de cem vezes o tamanho da cidade de São Paulo, corresponde a 21% do total desmatado.

A floresta em estado de regeneração foi apontada pelo diretor do Inpe, Gilberto Câmara, como um importante ativo, por funcionar na captura de gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global.

Já as pastagens degradadas, classificadas como pastagens com solo exposto, somam 594 quilômetros quadrados, ou 0,1% do total abatido. Um porcentual menor do que o esperado.

Absurdo

O estudo também deve reforçar os argumentos do governo na negociação da reforma do Código Florestal, ao revelar o destino da maior parcela das áreas desmatadas. O ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) defendeu uma moratória ao desmatamento na Amazônia, proposta abandonada durante os debates no Congresso.

A ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) chamou a atenção para o modelo de exploração da pecuária na Amazônia. "Ter menos de uma cabeça de gado por hectare é algo inaceitável. É um desperdício porque você está substituindo a floresta por algo que não dá retorno de renda e crescimento ao País", comentou