quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Estudo revela Amazônia desconhecida e preservada

Depois de um ano de trabalho, o Exército acaba de concluir a primeira parte de um tipo de levantamento cartográfico inédito na Amazônia.

Na região estudada --que fica a noroeste, é conhecida como Cabeça do Cachorro e ocupa uma área equivalente à Alemanha (350 mil quilômetros quadrados)--, as primeiras conclusões indicam que ali a floresta está mais preservada do que há 30 anos, possui inúmeros igarapés jamais visualizados nas imagens de satélites e perdeu comunidades indígenas pelas dificuldades de sobrevivência.

A partir de 2010, começarão os estudos para avaliar as espécies vegetais da região (principalmente as castanheiras e seringueiras, típicas da floresta existente no local), seu valor comercial, a composição geológica do solo e o desenho pormenorizado dos novos riachos descobertos, trabalhos que serão feito pelo Ministério das Minas e Energia e pela Marinha, respectivamente.

Os resultados vão revelar inicialmente o perfil de São Gabriel da Cachoeira e Barcelos, as duas primeiras das dez microrregiões em que a Cabeça do Cachorro foi dividida para a realização da pesquisa, que ao todo vai demorar cinco anos e custará, incluindo partes náutica e geológica, R$ 150 milhões.

As cartas mais recentes sobre a Amazônia são dos anos 1990 e não incluem a região da Cabeça do Cachorro. "Temos ali um vazio cartográfico, um nada. É difícil até mesmo organizar os trabalhos de fronteira que precisamos realizar", diz o general Augusto Heleno, chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército.

Sem surpresa

Os primeiros resultados do levantamento, feito sob a coordenação do general Ronalt Vieira, não surpreenderam o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), responsável pelos números oficiais do desmatamento no país, nem os ambientalistas.

"Todo o oeste da Amazônia, como é o caso, não possui estradas. Como o acesso é somente por rios, isso dificultada a exploração. E o fato de não se ter gado ali permite uma regeneração rápida da mata, porque o gado compacta o solo e dificulta o florescimento das sementes de maneira natural", diz Dalton Valeriano, pesquisador do Inpe especializado na região.

Segundo números do instituto, o desmatamento de floresta nativa em São Gabriel da Cachoeira caiu de 1.500 km2, em 2003, para 610 km2 em 2007.

Trata-se de uma realidade complemente diferente daquela encontrada, por exemplo, no Estado do Pará, um dos mais atingidos pelo desmatamento, decorrente, primeiro, da exploração ilegal de madeira e, na sequência, do gado.

Dados positivos

Em junho, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, apresentou os números mais novos sobre o desmatamento, que são positivos: de fevereiro a abril, a área devastada foi de 197 km 2, contra 1.900 km2 no mesmo período de 2008.

Ou seja, houve redução de 90%, mas, de acordo com o ministro, a maior quantidade de nuvens neste ano pode ter impedido a captação de imagens de novas áreas desmatadas.

"A inexistência de estradas e a falta de perspectiva de haver doação de área pública são fatores fundamentais para a preservação da região noroeste da Amazônia", diz Paulo Barreto, da ONG Imazon.

Tecnologia

O trabalho do Exército também é inédito pela tecnologia que utiliza, cujas fotos tiradas de um avião ultrapassam a copa das árvores, dando uma visão mais precisa sobre a vegetação e também o relevo, dados que ficavam prejudicados com a limitação de imagens colhidas por satélite, que esbarraram nas nuvens principalmente.

A disciplina militar e o conhecimento da região --boa parte dos soldados envolvidos na ação tem origem indígena-- são fundamentais para o trabalho. São 20 dias de viagem por rio para a chegada do combustível à Cabeça do Cachorro.

O avião empregado no trabalho de mapeamento da região começou a voar em outubro. Até o final de maio, foram consumidos 1 milhão de litros de querosene nos voos.

Pelos dados do general Ronalt, nos três próximos anos, tempo em que ele pretende concluir a parte de voo e registro de imagens da região inteira, o avião empregado no trabalho terá voado 900 mil quilômetros quadrados --teria dado, mais ou menos, 40 voltas em torno da terra.

Números do Inpe começam a confirmar previsão de Minc sobre desmatamento. Ministro do Meio Ambiente diz que devastação será a menor já registrada.


Imagens de satélite mostram redução constante da derrubada da floresta.

Já faz alguns meses que o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, vem prometendo que o desmatamento entre 2008 e 2009 será o menor desde que o Brasil começou a medir a devastação da Amazônia. Nesta terça-feira (4), em Brasília, o ministro reforçou sua expectativa: "Se nada de extraordinário ocorrer, teremos a confirmação do menor desmatamento dos últimos 20 anos", disse ele, segundo nota divulgada pelo ministério.

A diferença é que, desta vez, os números do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) já começam a confirmar a previsão de Minc. Segundo o último estudo do instituto, a floresta perdeu 578 km² em junho. O número é 33% inferior ao mesmo mês do ano anterior e a menor taxa desde 2004, quando o monitoramento mensal começou a ser realizado.

Por causa da grande quantidade de nuvens que pairavam sobre a Amazônia nos últimos meses, havia expectativa de que o desmatamento medido em junho – quando o tempo melhorou – revelasse grandes áreas desmatadas que poderiam estar invisíveis sob a lente dos satélites.

Não foi o que ocorreu. Apesar do aumento do desmatamento em relação ao mês anterior – em maio, foram 128 km² derrubados –, este já é a oitava leitura mensal do Inpe em que o desmatamento cai em relação ao mesmo período do ano anterior, revelando uma redução consistente do desmatamento.


Medição paralela

As estatísticas de desmatamento divulgadas pela ONG Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), apesar de serem baseadas em metodologia diferente da usada pelo Inpe, também indicam queda constante do ritmo de devastação. Segundo a organização, a floresta amazônica perdeu 150 km² em junho – redução de 75% em relação a junho de 2008, quando o desmatamento somou 612 quilômetros quadrados.

Na semana passada, o pesquisador Adalberto Veríssimo, um dos autores do estudo da ONG, concordou com as previsões de Minc sobre a queda do desmatamento. O cientista alertou, contudo, que no segundo semestre o desmatamento pode subir novamente.

O crescimento da economia, somado a um verão seco, podem estimular o corte das árvores. Além disso, Veríssimo aponta a proximidade das eleições como um dos fatores que aumentam a devastação “Infelizmente, a floresta é barganhada”, afirmou.

Minc, apesar de otimista, está apreensivo em relação à próxima medição. “Julho é um mês terrível. E vai ser difícil reduzir o desmatamento em relação a julho de 2008, que foi de cerca de 300 quilômetros quadrados”, disse ele, segundo a Agência Brasil.


Período de um ano

Os dados anuais de desmatamento serão divulgados pelo Inpe no final do ano. O calendário utilizado pelo instituto vai de agosto a julho. Assim, a taxa equivalerá à devastação ocorrida entre 2008 e 2009.

O ministro calcula que as estatísticas apontem entre oito e nove mil quilômetros quadrados destruídos. Se isso se confirmar, será a menor taxa desde 1988, quando o Inpe começou a medir o desmatamento. Até hoje, o menor nível detectado foi em 1991 (11.030 km²). No ano passado, foi registrada a terceira menor estatística anual, de 12.911 km².


Comparação mensal

Considerando as medições feitas a cada 30 dias, a previsão de Minc parece estar certa. Nos últimos 11 meses, o Inpe apontou que 3.534 km² de florestas foram devastadas. No período anterior (agosto de 2007 a junho de 2008), haviam sido detectados 7.817 km² de florestas derrubadas.

A conta só não pode ser simplificada assim porque a leitura anual, chamada de Prodes, considera apenas os locais onde a floresta foi completamente derrubada – o conhecido “corte raso” –, enquanto a leitura mensal, chamada de DETER (Detecção do Desmatamento em Tempo Real), inclui os locais onde a mata foi parcialmente destruída – a tecnicamente denominada “degradação florestal”.

Outra diferença entre as duas estatísticas é que o Prodes utiliza imagens de resolução melhor que o Deter, conseguindo verificar desmatamentos menores.