sábado, 31 de julho de 2010

Ab’Saber critica novo Código Florestal na SBPC

Para o geógrafo da USP, caatinga e cerrado precisam ser incluídos na nova proposta; ele pede união dos cientistas para impedir essa “reforma estúpida”

 
ad'saberA revisão proposta para o Código Florestal é uma estupidez. A afirmação é do cientista Aziz Ab’Saber, 86, professor emérito da Universidade de São Paulo (USP). O geógrafo, conhecido por ter opinião contundente sobre questões relativas à Amazônia, sacudiu a plateia durante a conferência-homenagem na 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Natal.


Um dos pontos da proposta de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) que mais preocupam Ab’Saber é a fixação de limites para a preservação das margens dos rios e a tentativa da “bancada ruralista” de diminuir o percentual da Reserva Legal na Amazônia. Segundo ele, cada propriedade rural naquela região precisa preservar 80% de desmatamento em seu território. Em seu texto, o deputado propõe diminuir para 20%.

“É um retrato do que já aconteceu no Sudeste, com áreas totalmente destruídas. Não podemos permitir o mesmo na Amazônia”, diz o geógrafo da USP. Para ele, uma revisão do Código Florestal “precisa ser liderada por gente que conhece o assunto, o que, infelizmente, não é o caso”. Ele vai publicar esta semana um artigo com pesadas críticas ao texto de Rebelo.

Ab’Saber recebeu homenagem da SBPC por suas contribuições ao avanço da ciência no Brasil. “Um grande humanista”, declarou o presidente da entidade, Marco Antonio Raupp. O geógrafo é considerado referência nos estudos de geomorfologia e meio ambiente, e desenvolveu centenas de pesquisas e tratados de relevância internacional nas áreas de ecologia, biologia evolutiva, fitogeografia, geologia, arqueologia e geografia.

Com tamanha experiência e produção científica na área, Ab’Saber assegura que o limite de sete metros e meio após a margem de rios é insuficiente se o objetivo é realmente preservar. “Os revisores aplicam esse limite sem sequer terem ido lá para conhecer o fantástico mosaico de rios do território regional”, afirmou. Para o geógrafo, é preciso levar em consideração as diferenças de cada região.

Um dos principais teóricos da classificação morfológica da geografia brasileira, Ab’Saber é explica que Caatinga, Pantanal, Cerrado, Araucárias, entre outros, são os chamados “domínios morfoclimáticos”. “Todos precisam ser considerados a partir de suas características específicas. Por isso, o Código Florestal deveria, nessa perspectiva, ser um ‘Código da biodiversidade’”, disse o geógrafo, para quem a discussão precisa ser ampliada, já que “caatinga não é floresta, cerrado não é floresta, e precisam ser incluídos no texto”.

Nem o governo federal escapou das criticas contundentes de Ab’Saber. Segundo ele, a proposta do Código da Biodiversidade foi enviada a Brasília, mas rejeitada por ser “complexa e inoportuna”. Para reverter esse quadro, o cientista conclama os demais intelectuais da sociedade brasileira. “Bastaria que os acadêmicos conscientes da estupidez que está sendo feita se unissem para impedir essa dita reforma”, finalizou.

Após ouvir atentamente as críticas do geógrafo, Marco Antonio Raupp declarou: "Esse é o Ab'Saber. Polêmico e provocador. Isso faz dele um cientista diferenciado". A reunião da SBPC está sendo realizada no campus da Universidade Federal do Rio Grande Norte (UFRN) e termina na sexta-feira, 30.

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